sábado, 21 de outubro de 2017

O controle e a administração da líbido (especialmente da sexual) ou da fuga pelo sistema.


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Podemos negar que o sistema capitalista seja racional ou ético mas não podemos negar que seja sagaz ou esperto tendo em vista os objetivos a que se pretende. Haja visto que administra tanto diversas formas de alienação - Comercializando-as, vendendo-as e auferindo estrondosos lucros na mesma medida em que engana e escraviza aqueles que as consomem - como o acesso dos cidadãos a líbido e portanto os próprios meios através dos quais cogitamos fugir a realidade, também apossa-se deles e os convertem em fontes de lucro.

Diversas religiões e Sociedades antigas foram suficientemente perspicazes a ponto de perceberem que ao dominarem a sexualidade do homem chegam a dominar o próprio homem. Perceberam igualmente que a repressão sexual produz uma quantidade equivalente de agressividade, a qual sempre pode ser usada contra seus adversários. O capitalismo foi mais além tomando consciência de que a agressividade nem sempre pode ser manipulada ou controlada, mormente quando falta o apoio da religião.

Dai ter investido, ao cabo do século XX, em diversas pesquisas relacionadas com a sexualidade humana e seu fluxo, assim os famosos relatórios Hite sobre a sexualidade feminina e masculina. Afinal era necessário por a coisa em termos mais ou menos matemáticos no sentido de averiguar quanto em termos de repressão ou privação pode ser imposto ao trabalhador sem produzir uma agressividade excessivamente perigosa. A coisa ficou definida mais ou menos em termos de um jornada semanal, sendo o fim de semana reservado ao descanso e por ext ao lazer i é a fruição de diversos prazeres.

Calculou-se certamente que após os cinco dias efetivos de trabalho, o operário precisava 'descarregar' as energias acumuladas durante a semana dando largas aos apetites sexuais. Assim o Sábado e o Domingo seriam dias dedicados a recuperar o tempo perdido ou a fruição do prazer. Dias em que a vida noturna, a prostituição e todo tipo de evento classificado como erótico ou pornográficos tornam-se mais intensos e assumem a ponta do Mercado. Destarte os dias de descanso do proletário equivalem aos de maior trabalho no setor da indústria sexual e vice versa.

O Mercado acabou absorvendo a demanda de sexualidade acumulada produzida por ele mesmo ao criar uma indústria sexual aos feriados e fins de semana. Criou uma demanda e absorveu-a tornando-a lucrativa. Tornando-se consumidor de sexo, bebida, cigarro e dança nos fins de semana o proletário faz reverter ao Mercado parte do montante que recebeu, quebrando o paradigma da economia como fundamento da ascensão econômica. Aos olhos dos puritanos e dos darwinistas sociais os poucos trabalhadores que se tornam milionários são justamente aqueles que ao invés de consumirem tais produtos, reprimem-se ainda mais, guardando e juntando parte do salário. E no entanto esta fruição de prazer negado constitui uma demanda gerada pela própria condição humana. Em tais condições as 'pessoas de bem' que se negam ao prazer, que se controlam ou recalcam tornam-se amiúde neuróticas, mesmo quanto excepcionalmente tornam-se prósperas. Pagam o ascetismo forçado ou o sacrifício com a sanidade... Isto quando não se tornam agressivas, amargas, violentas e cruéis até o sadismo. Tal o tipo do rico sádico e insensível...

Até certo ponto o sistema conseguiu conciliar o ideal calvinista do trabalhador morigerado a austero, dos cinco dias de trabalho por semana, com o consumidor de 'vícios' ou prazeres dos fins de semana descrito por Bernard de Mandeville. O capitalismo logrou converter os vícios da semana na fonte de lucro dos feriados e fins de semana, dias destinados a fruição do prazer ou a compensação, tendo em vista a situação de recalque precedente. Passou assim a intercalar períodos de repressão e trabalho e períodos de fruição e consumo, retomando o Mercado por meio do consumo dos prazeres o pouco que os trabalhadores haviam ganho com o trabalho no período anterior.

Conciliou o trabalho e a repressão com a fruição e o consumo, mas sempre em seu benefício. Lucrando sobretudo quando o homem angustiado, buscando fugir a realidade do mundo externo, abraça furiosamente o princípio do prazer, tornando-se consumidor compulsivo. Paradoxal que este homem tenha muitas vezes plena consciência a respeito das mazelas do Mercado, e que as denuncie, critique e se oponha a elas... No entanto quando perde as esperanças de prostrar o deus Mercado por terra e entra em crise, é justamente ai que passa alimenta-lo, pelo simples fato de precisar consumir altas doses de narcótico para sobreviver. Evidentemente que tais narcóticos ou sedativos não lhe serão dados. Tem um custo e como tudo que tem custo prestam-se ainda e mais uma vez as aspirações do Mercado.

Na cultura ou sociedade de mercado inexiste realidade que não se relacione com ele. A prostituição, a pornografia, a indústria do cigarro e das bebidas, a própria indústria de preservativos e antes de tudo e acima de tudo o negócio da droga nada tem de Revolucionários ou contestatórios em si mesmos. Correspondem todos a necessidades reais existentes em quaisquer Sociedades, as quais no entanto foram ampliadas, assumidas, incorporadas e absorvidas pelo Mercado. A Sociedade de Mercado produz dependentes do prazer - justamente as pessoas que buscam fugir a ele - e transforma-os em consumidores inconscientes. Os quais por força de hábito até são capazes de imaginar tais nichos econômicos como Revolucionários, não são... O prazer é explorado pelos mesmos senhores que exploram o grande capital e esta conectado com eles formando uma só rede.

O que estou querendo dizer com isto é que o sistema é imensamente esperto, capaz de assimilar suas próprias demandas, de converter seus pontos fracos em fontes de força, de transformar-se, de criar novas relações e de assumir novas formas cada vez mais arrojadas. O que me faz lembrar Anteu, o gingante da fábula, que recuperava suas forças ao tocar na terra sua mãe...

É um sistema que produz situações complexas.

Explorando a um lado necessidades compulsivas a que classifica como vícios e vendendo-os a certa parcela da população e ao mesmo tempo explorando o trabalho morigerado produzido durante a semana e a moderada fruição do prazer pelo operário nos fins de semana... Tudo isto, limitação e fruição, é mais ou menos gerenciado por ele.

Resta-nos dizer ainda que a própria alienação, converte-se em negócio bastante lucrativo, particularmente para o nicho midiático ou para a indústria de comunicação de massas. Afinal o sistema como um todo e cada uma de suas partes precisam recorrer a alienação para manter-se. Daí ela mesma assumir a forma de produto oferecido pela imprensa. De modo que a seleção e a distorção dos fatos apresentados é certamente paga pelos interessados. Outro aspecto da indústria midiática consiste em vender propaganda, especialmente quanto a fruição de certos prazeres moderados ou fugas autorizadas, cujo consumo cabe a ela incentivar ao máximo apelando a todos os recursos propiciados pela imaginação ou pela fantasia.

Tais as propagandas relacionadas com as bebidas alcoólicas, o cigarro ou mesmo algumas iguarias como o chocolate ou a coca cola.

Aqui a propaganda clássica criada pelo psicólogo lacaio consiste mormente na associação de ideias. Daí mostrarem ao trabalhador miserável e mal cuidado pessoas belas, ricas e elegantes em situações de poder consumindo determinados produtos. A tais cenas paradisíacas adicionam alguns jargões do tipo - Gente bonita consome chocolates Sonksen ou Beber giny cola te torna poderoso...

Neste sentido - quanto a propaganda, a prostituição parece ser bem mais recatada rsrsrsrsrsrs De qualquer modo há todo um ar de apelação sexual na mídia, quiçá tendo em vista a permanência de algumas situações de recalque e repressão, quiçá tendo em vista apenas aquecer a indústria ponográfica ou sexual que vai já se formando. Parece inevitável que a libertação sexual deixe de produzir uma demanda em termos de mercado e uma indústria sexual pelo simples fato de dar-se numa sociedade capitalista. De fato a necessidade de uma Revolução sexual foi e é inquestionável, deplorável é que ocorra num contesto capitalista. Destarte o sexo nunca tende a tornar-se simplesmente normal na medida em que o nicho do mercado que lhe é consagrado tende a estimula-lo ao máximo, a classifica-lo como o valor supremo da vida e a ignorar sua dimensão pessoal em termos de sentimento.

Nem podemos nós deixar iludir-nos quanto ao tema da liberação das drogas julgando que algo de Revolucionário virá deste balaio. Pois tudo quanto veremos será a criação de outro nicho em termos de mercado com a respectiva demanda por propaganda a menos a longo prazo. A menos que tal liberação se desse noutro tipo de sociedade até poderíamos nos deixar tomar pela ilusão de que o consumo das drogas se daria noutros termos, alias impensáveis para nós. Ocorrendo como a Revolução sexual num contexto de mercado é óbvio que sua demanda será absorvida e mercadizada como tudo. Como a religião alias, cada vez mais simoníaca...

Se após ter lido todos estes parágrafos chegou a imaginar o mercado como um polvo colossal cujos tentáculos se apossam de qualquer coisa, devo dizer que a imagem formulada por você é bem mais do que pura e simples coincidência.


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O tema da fuga...

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Como registrado foi em artigo precedente em posse do conhecimento da realidade assume o homem duas posturas características e antagônicas; a do afrontamento, que coaduna-se com o progressismo ou a da fuga, que corresponde a uma espécie de desespero invencível ou a um conservadorismo negativo nas palavras de meu grande amigo Douglas Eduardo Vaz.

Não se trata como bem poderia parecer de alternativas lineares. Não poucos progressistas, esquerdistas, trabalhistas, socialistas de modo geral após terem se dedicado por um longo tempo ao afrontamento e a militância (Tendo em vista a colossal dificuldade - já apontada com  peculiar lucidez por Freud - com que se transforma a realidade social) costumam costumam a passar por crises periódicas de angústia e desesperança até a ambivalência, alternando, em determinadas circunstância da vida, atitudes de afrontamento e de conservadorismo negativo ou desistência. Mauro Iasi caso não me falhe a memória, analisou detidamente esse problema numa de suas obras.

Temos de compreender estas pessoas ou melhor, temos de compreender a situação existencial experimentada por elas, as limitações do aparelho psíquico e a condição de cada um ao invés de sem mais classifica-las como vis traidoras ou inconsequentes. Do contrário nosso socialismo não terá valor algum. Ser humanista pressupõem no mínimo sincero esforço para compreender o outro, ao invés de te-lo em conta de conspirador malévolo.

Implica saber que a angústia não é em si mesma tolerável ou suportável, mas que corresponde mais ou menos a uma dor que se sente na alma...

Tanto mais intensa a dor, tanto mais a necessidade de ser estabilizada por meio de algum narcótico ou sedativo. No passado o ópio ou o clorofórmio... antes disto a Datura Stramonium, a Canabis Sativa, o Peyote, o Whisky... Homens e culturas sempre buscaram fugir a dor lancinante. Crendo-a radicada quase sempre no corpo. O homem moderno no entanto, objeto de tantos conflitos e frustrações, veio, mais do que qualquer um de seus remotos ancestrais a conhecer um outro tipo de dor não menos forte, a dor da alma ou a angústia.

Daí o já citado (apud artigo anterior 'Um pouco de arte) dramaturgo - Quem tem problemas tem conhaque... vodka, whisky, morfina... Afinal em situações de dor sedativo não é luxo, é necessidade.

E como a causa da angústia da-se inevitavelmente em termos de choque entre as instâncias mentais ou entre o Ego e o mundo externo, ao menos neste último caso, a única saída que se impõem é fugir deste mundo externo, cortar os vínculos com ele, separar-se...

Vindo a propósito a perda de consciência, por meio da qual temos acesso a outros estados de espírito, totalmente diversos da realidade.

No passado as multidões chegaram a crer que tais estados equivaliam a uma via de acesso aos seres divinos. Hoje multidões de homens irreligiosos continuam buscando-os não mais como forma de unirem-se ao sagrado ou ao numinoso, mas como forma pura e simples de romper com a realidade indesejável desde mundo ou enquanto fuga.

Apesar disto não é situação nem um pouco simples.

Fugitivos que recorrem a perda de consciência e a tão extravagantes fruições de prazeres costumam não poucas vezes a assemelharem-se aos marinheiros que bebem água do mar. E todos sabem muito bem o que se sucede com o infeliz naufrago que cede a esta forma de tentação...

Fugas bem planejadas e bem sucedidas podem se tornar recorrentes e incontroláveis; até que se perde por completo o nexo com a realidade vivida e se passa de vez para o outro lado, o lado da insanidade.

Pode sempre a fuga tornar-se compulsiva ou imperativa; e assim se perde o homem, não devido a angústia mas a fuga. Sempre bom após algumas fugas toleráveis buscar auxílio psicológico com que enfrentar a angústia em suas fontes e dribla-la. Fuga até pode acontecer como improviso, é compreensível. Urge no entanto, ir o quanto antes a raiz do mal e tentar estrai-la. Claro que num pais em que o custo do serviço psicológico é tão alto, as fugas podem se tornar ainda mais atrativas por serem menos onerosas, ao menos para o bolso...

Mas e se a substância empregada for nociva? E causar danos neuronais irreversíveis. E se os demais tipos de fuga ou compulsão tornarem-se incomodativos na medida em que se chocam com nossas necessidades vitais em termos de emprego, família, etc???

Não o tema da fuga não é nem um pouco simples. Na medida em que corresponde, não poucas vezes a um suicídio lento e inconsciente...

Assim se não se pode censurar o homem que sucumbiu ao peso tremendo da dor tampouco se pode deixar de orienta-lo no sentido de buscar por ajuda. Orientar é diferente de julgar e condenar. Como diria o Dr Frankl caso este homem não encontre um sentido mais profundo que o leve a apegar-se a vida mesmo com todas as suas dificuldades, quem poderá obriga-lo a viver? Se ele encara esta existência como um fardo doloroso, que podemos fazer? Como obrigar alguém a permanecer num navio que não o agrada ou a fazer uma viagem que não quer?

Como as dores da alma tendem a ser mais frequentes e continuas do que as dores do físicas, a intoxicação por meio excesso de sedativos ou por meio da fuga constitui uma ameaça real. Melhor tratar essa angústia já no começo... Após as primeiras fugas.

Bem, já enrolamos demais o amigo leitor. Urge finalizar este artigo. Arrolemos as possibilidades de fuga -

  • O fundamentalismo religioso, sempre associado a uma mentalidade magico fetichista ou seja crença em intervenções sobrenaturais e divinas. Tal a situação da gente simples ou ingênua sempre a espera de um milagre. Aqui sequer pressupomos qualquer explicação em termos de ocultação de causas ou de alienação, da qual o crente sempre pode prescindir. Descrevemos apenas a atitude vital daquele que abandonando mais e mais a vida refugia-se em templos e igrejas passando cada vez mais tempo assistindo a cultos religiosos, orando, consumindo literatura religiosa, etc Naturalmente que nos encontramos com um tipo de fuga plenamente justificado - O mundo é mal ou diabólico. Esta forma de fuga, que costuma ser total ou definitiva, tem seu principal risco quando a pessoa em questão acredita ser capaz de comunicar-se diretamente com a divindade, sendo estimulada neste sentido pelos líderes religiosos irresponsáveis. Assim por meio da via mística chegasse bastante facilmente a demência ou a esquizofrenia e não poucas vezes ao crime. Afinal não há pior opção do acreditar que tudo quanto pensamos, falamos, vemos ou ouvimos procede do próprio Deus.
  • Formas de hedonismo não substanciais ou químicas.
    Assim a compulsão sexual compreendida no sentido em que a busca pela fruição do orgasmo ou do prazer sexual converte-se em objetivo primário da atividade humana conflitando com as demais esferas da existência, assim com o trabalho por exemplo. Na medida em que essa busca vai trazendo mais e mais problemas, cumulativamente, caracteriza-se o problema. Trata-se aqui de um tipo de fuga bastante estimulado pema cultura e pela mídia tendo em vista certo nicho existente no mercado e evidentemente o lucro, situação que analisaremos em nosso próximo artigo sobre "A administração da alienação e da fuga ou do prazer pelo pode econômico."
    Outro tipo de compulsão diz respeito aos jogos de azar, estando nitidamente relacionada com a aspiração inconsciente pela emulação, pela auto afirmação ou pela realização pessoal, objeto de frustração. Aqui a relação com as finanças é ainda mais clara e perigosa, na medida em que uma pessoas viciada em jogos ou compulsiva pode vir a perder todos os seus bens muito rapidamente.
    Como variante deste temos a compulsão por jogos eletrônicos.
    Outra variante muito comum é a fuga por meio de uma realidade digital ou virtual paralela, inclusive produzida e comercializada. Tenho notícia de pessoas que por esta via chegaram rapidamente a alienação mental e irreversível por se terem hipostasiado com personagens e situações fictícias, cujo comportamento passaram a reproduzir socialmente. A derradeira variante é o esportivismo, no Brasil sob a forma do futebolismo e do clubismo, o qual não poucas vezes tem resultado em conflito armado e assassinatos. 
  • Chegamos por fim a menos crítica de todas as formas de fuga, se é que podemos dize-lo ou a que é mais apreciada pelo Sistema. Estamos nos referindo ao consumismo, em virtude do qual acreditamos poder saciar nosso vazio interior ou vazio de sentido e de perspectivas, adquirindo objetos, coisas ou mercadorias ou seja comprando, consumindo e aquecendo o Mercado. Aqui ainda a questão da auto estima, da realização pessoal, da auto afirmação... Pois não poucas pessoas sentem uma sensação indefinível de prazer, bem estar ou mesmo poder comprando coisas, o que em não poucas vezes reflete um estado psíquico análogo ao do misticismo, da auto sugestão ou mesmo do consumo de substâncias narcotizantes. Em tais circunstâncias além das dívidas o consume deve produzir certas substâncias glandulares ou endócrinas relacionadas com a sensação de prazer.
  • As formas de hedonismo químico resultante da introdução de certas substâncias no organismo seja por via bocal, nasal, venal, etc
    Temos aqui -
    A embriagues, definida como consumo de alcool na medida em que chega a alterar os níveis de consciências ou como consumo excessivo, o qual nada tem a ver com o consumo parcimonioso ou moderado (aqui C S Lewis). O problema imediato aqui são as situações em que o excesso conduz a perda total de consciência, assim o famoso caso do 'bêbado no banco da praça' ou o que é bem mais dramático, atirado inconscientemente sobre os trilhos de uma Ferrovia ou as margens de uma Rodovia, claro que todas estas situações traduzem certo grau de vulnerabilidade e comportando, riscos reais para a vida e a integridade física da pessoa. Afinal vivemos num pais em que índios e moradores de rua já foram incendiados pelo fato de estarem a dormir em alguma praça ou rua. A longo prazo todos sabemos que a embriagues implica sérios danos a saúde física, podendo resultar em cirrose ou câncer no fígado, para não falarmos noutras tantas moléstias 'comuns' como o AVC.
    Temos ainda aqui uma droga sintética extremamente forte e danosa, o Ecstasy, o qual é comercializado sob a forma de cápsulas ou pílulas. Associado a bebidas alcoólicas o Ecstasy tem seus efeitos potencializados podendo produzir facilmente uma parada cardio respiratória. O Ecstasy também pode conduzir os viciados a imbecilidade completa em curso prazo pelo esgotamento dos neurônios cerebrais.
    Chegados a via nasal temos toda uma gama de drogas inaláveis - Da cola e dos perfumes até o cigarro - que a bem da verdade não passa de uma droga legalizada - e o insidioso crack, i é as pedras de fumar feitas com cristais de cocaína (A qual também pode ser cheirada em pó). Ocioso dissertar a respeito dos riscos implicados no consumo continuo do tabaco descobertos há quase cem anos pelos médicos alemães do fuhrer. Igualmente ocioso mencionar os efeitos danosos do consumo de cocaína ou mesmo da inalação da maconha.
    Quanto a via venal temos a introdução de cocaína das veias. Aqui além de outros tantos riscos há o de contrair-se doenças transmissíveis devido ao uso comum da agulha e o de envenenar-se, haja visto que aqueles que manipulam tais implementos nem sempre estão conscientes do que fazem...
    O LSD pode ser consumido oralmente, inalado ou injetado, a vontade do freguês. É a dietilamida do ácido lisérgico produzida pela cravagem de um fungo do centeio desde 1943 por Albert Hofmann. A História do LSD constitui uma página a parte quanto ao consumo de entorpecentes pelo simples fato de ter produzido uma cultura, a cultura psicodélica (nos anos 60) relacionada com um grande número de artistas e intelectuais dentre os quais Aldous Huxley. É uma das drogas mais poderosas em termos de efeito, e relativamente segura. Sem consumo no entanto pode levar a psicose, inclusive crônica.
    Cumpre registrar a imensa popularidade da droga entre artistas e intelectuais, os quais tendo tomado consciência quanto a dura realidade da existência humana, e sua resistência a quaisquer tentativas de transformação deixaram-se dominar pela angústia e pelo desespero, resultando disto, obviamente a necessidade da fuga e consequentemente a droga. O trágico epílogo deste tipo de experiência todos conhecemos muito bem - A overdose e a morte... ou seja o suicídio, algumas vezes consciente, outras vezes não...

    FUGAS SAUDÁVEIS?

    Algumas fugas saudáveis tem sido relacionadas com a sensação estética produzida pela arte. Assim a fuga da realidade por meio dos livros de romance, ficção e fantasia. A fuga pela contemplação visual de um quadro ou duma exposição. A fuga pela poesia ou pela musica. A fuga pelo teatro. A fuga pela apreciação de cerimônias religiosas de caráter simbólico. A fuga moderada pela prática saudável de algum esporte. A fuga moderada pela apreciação sóbria do licor ou do narguilé. A fuga por um tipo de esforço pessoal agradável; como o artesanato. A fuga moderada pela arte culinária ou pela degustação de um bom prato. A fuga moderada pelo exercício da sexualidade, etc Em não poucas situações somos levados a perceber que a distinção entre o tolerável e o danoso esta apenas na intensidade da fruição a que chamamos fuga.


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Um pouco de arte...


Quem tem problemas - e quem não os tem na Sociedade do lucro máximo? - diz o dramaturgo, tem conhaque ou cachaça (rsrsrsrsrsrs perdoem-me pela cachaça). Sem querer excluir o conhaque ou licor - os quais me agradam em demasia - os que estão na fossa ou estressados, ou angustiados, ou deprimidos... acrescente ao aperitivo uma boa dose de música porque é a música narcótico de primeira ordem e um dos principais sedativos da alma. E pode abusar dele que é saudável!

E quanto a nós que cremos que a Beleza - em comunhão com o Bem e a Verdade (a Kalokagatia) - haverá de redimir o mundo tanto mais devemos usar e abusar ao máximo da afinação e da melodia:












As formas de alienação periférica

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A pedido elaborarei um breve artigo sobre as formas de alienação periférica, principiando pela distinção entre as formas de alienação:

  • Alienação periférica é a que busca ocultar, manipular ou distorcer a realidade
  • Alienação ideal ou essencial é a que busca ocultar as verdadeiras causas dos problemas encontrados na realidade.

Quanto as principais formas de alienação periférica podemos citar:

  1. O isolamento espacial. Tal a forma de alienação escolhida pelo poder com o objetivo de cooptar os oficiais do exército, criando vilas militares ou mantendo-os aquartelados em condições totalmente diferentes daqueles que vigoram no âmbito da Sociedade civil ou oferecendo-lhes um modelo que funciona e fazendo com que acreditem que este modelo é comum a todo pais e portanto que todos os civis vivem maravilhosamente bem e que os descontentes certamente não passam de criminosos ou desajustados. Caso tenhamos em vista que autênticas dinastias de oficiais são criados e educados neste realidade artificial intencionalmente criada fica fácil perceber porque costumam ser essencialmente conservadores, afinal não pode aspirar mudar aquilo que funciona tão bem e tendem a conceber e julgar o mundo a partir da realidade em que vivem. Por isso os militares de até meio século atrás antes de serem 'vilões' constituiam um bando de alienados produzidos pelo Estado segundo suas necessidade de controle formando um eficiente aparelho repressor.
  2. A realidade artificial. Referi-mo-nos aqui não apenas a realidade mas a própria cultura produzida e imposta pelos meios de comunicação de massa diretamente controlados, no caso do Brasil, pela alma burguesia. Nada diferente do 'pão e circo' ou pão e espetáculo dos antigos romanos. Entre nós particularmente, a seleção e manipulação de informações associada a produção de necessidades artificiais atingiu um tal nível de refinamento que sequer precisamos distribuir gêneros - pão, carne, vinho e mudas de roupas - como entre os antigos romanos. Nossos cidadãos deixam-se hipnotizar por simples ideias ou teorias como uma galinha diante de um risco. Queremos que haja inimizade ou ódio entre nós e os argentinos, introduzimos este ódio cego no futebol e os Norte americanos agradecem... Queremos afastar as massas dos Cristianismos Católicos devido a sua consciência social mais acurada e aproxima-los do protestantismo com seu conteúdo individualista, apresentamos uma versão unilateral de Inquisição e ninguém se dará ao trabalho de questionar, passando o protestantismo por santo, apesar de todas as suas atrocidades... Queremos paralisar a reflexão política e social ou qualquer outra movimentação que nos esteja incomodando ai vem o carnaval com moças negras de periferia arreganhadas e a goles de muita cerveja... Queremos promover a visão ingênua de que o trabalho honesto a base de salário enriquece, colocamos este conteúdo da novela da Globo... Queremos fazer o povo idiota acreditar que a falta dágua no estado de S Paulo corresponde a um castigo enviado por um deus irritado devido aos nuances da vida sexual contemporânea colocamos o Malafaia ou o Feliciano sob os holofotes. Queremos evitar que o povo questione o sistema pela crise econômica colocamos na telinha um filme qualquer contra os russos (URSS) ou com mensagens subliminares... Ao invés de ensinar a juventude a encarar a sexualidade de modo natural permitimos que mídia dela se aproprie e a venda como único objetivo da vida... Quando estamos dispostos a nos inserir, a militar e e exercer a cidadania a mídia nos bombardeia com o tema da corrupção até produzir a mais intensa angústia... Preciso continuar insistindo para demonstrar que a mídia esta sempre a postos no sentido de selecionar seus conteúdos tendo em vista determinada necessidade calculada em termos de intencionalidade. Noutras palavras esta sempre buscando produzir reações favoráveis ao sistema, blinda-lo, protege-lo, etc A ideia aqui é que apenas um conteúdo especifico concentre a atenção das massas fazendo com que esqueçam-se de todo o resto.


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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Ainda a alienação - Formas ideais

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Dando continuidade ao elenco de alienações ideais elaborado por nós no artigo anterior, acrescentamos algumas outras formas:

1) O fixismo ou imutabilismo social.

Esta forma de ocultação da realidade consiste em imaginar ou supor que a organização social por nós vivida sempre tenha sido assim em todos os tempos e lugares, ignorando a existência de sociedades não capitalistas tanto no passado como no tempo presente.

Evidentemente que ela decorre de um padrão de pensamento bastante comum entre as pessoas mais simples e desinformadas, as quais sequer podem imaginar o mundo ou a vida sem os objetos e coisas que são próprios do nosso tempo. Daí nossos jovens imaginarem que os celulares ou a Internet sempre existiram. Já os que pertencem a nossa geração tem imensa dificuldade para conceber um mundo sem aviões ou automóveis; mesmo sabendo que o avião foi intentando em 1911 e o automóvel por Benz e Daimler pelos idos de 1889. Nossos bisavós nasceram e viveram um bom tempo sem automóveis e aviões (minhas bisavós nasceram em 1870 e 1875) e nossos ancestrais sem trens ou navios a vapor... E no entanto, como disse, nos comportamos todos como se tais aparelhos sempre tivessem existido.

E pensar que o fósforo, o papel, a sela, a ferradura, o vidro e a escrita... tudo teve de ser inventado. E que antes de terem sido inventados inexistiam. Sem que por isso as pessoas praticassem harakiri ou se suicidassem. Como não nos suicidaremos caso os celulares ou a internet deixem de existir. No caso da Internet sua desaparição constituiria uma tragédia em todos os sentidos, algo equivalente a desaparição da imprensa. Mas mesmo assim a maioria de nós sobreviveria a seu fim, bem como ao da TV, do rádio e da própria imprensa. A cultura declinaria certamente e passaria por maus bocados, mas não morreríamos por isto... Tempo houve em que os homens viveram ser arado, torno e roda. Como nossos ancestrais mais remotos haviam sobrevivido sem cerâmica, cabanas, roupas ou mesmo o fogo. Afinal tudo começou com uns toscos implementos de osso e madeira e em seguida de pedra lascada há alguns milhões de anos.

Também as formas de organização social precisaram ser reinventadas ou reformuladas em diversas ocasiões. A própria estrutura familiar conheceu o matriarcado, a poliandria, a poligamia, o patriarcado, a dissolubilidade, etc até chegar a constituir-se no Ocidente, por influência do judaísmo farisaico em algo como patriarcal, monogâmico e indissolúvel. Diversas civilizações e culturas no entanto jamais assumiram semelhante forma, assim entre os muçulmanos prevalece a poligamia até o tempo presente.

Diga-se o mesmo quanto a produção e distribuição de bens. Nada mais absurdo do que supor que sempre vigorou a doutrina do livre mercado. A qual principiou a impor-se no Norte da Europa Ocidental após o fim da Idade Média, espalhando-se paulatinamente por todo este continente ao cabo do século XIX, afirmando-se nos EUNA (os EUA) no final do mesmo século e a partir do século XX alastrando-se pelo mundo inteiro. Antes que esta nova ordem desse os primeiros passos pelos idos do século XVI ou XVII vigorava naquele mesmo cenário e por quase toda Europa (França, Alemanha e parte da Itália) a Ordem feudal ou estamental. Do mesmo modo como ainda hoje existem pelo mundo diversas culturas que jamais atingiram algo parecido com a ordem feudal, quanto mais a ordem liberal economicista...organizando-se economicamente doutro modo.

Os paladinos e apologistas do sistema capitalista classificarão muito facilmente todas estas culturas, sociedades e civilizações tal e qual classificam a Idade Média, como algo precipuamente atrasado ou como um palheiro de trevas... E no entanto qualquer aborígene poderia responder-lhe dizendo que ao menos eles, os primitivos, os rudimentares, os atrasados, etc não fabricavam fomes. Conheciam a calamidade da fome, mas não a manipulavam intencionalmente. Poderiam dizer ainda que se não conheciam as grandes fortunas, tampouco conheciam situações de miséria. E que se não produziam ciência tampouco vendiam ou negociavam seus resultados, excluindo considerável parte dos cidadãos quanto a sua fruição...

Tudo quanto quero dizer é que se os marxistas pecam gravemente contra a verdade na mesma medida em que tendem a encarar as Idades primitiva, antiga e média em termos de relações burguesas, continuam reproduzindo vícios, quimeras e mitologias engendradas pelo próprio liberalismo econômico, o qual não poucas vezes pretendeu afirmar-se como algo sempre presente no cenário da História. No entanto é absolutamente certo que os primitivos, os antigos e os medievais jamais conheceram a forma capitalista de produção e organização ou as categorias de classe, salário, burguesia, capital, etc enfim um ideal economicista de existência. Embora as relações econômicas existissem - o que é obviedade de minha parte - jamais lograram absorver as demais esferas da sociedade ou mesmo sobreporem-se a elas de modo tão cabal. Certamente havia exploração, opressão domínio mas não de natureza necessariamente econômica. Nas Sociedades primitivas ou antigas nem sempre o poder esteve associado ou subordinado aos interesses de ordem econômica. Havia ali outro sentido e outras formas de regulação no que tange a ordenação do poder. Castas, estamentos e outras categorias sociais do passado não podem ser encaradas como sinônimo de classe ou postas em relação direta com necessidades ou valores de natureza econômica. Cf Polanyi 'A grande transformação'

Resta-nos concluir que se a Sociedade Ocidental nem sempre foi capitalista, pode naturalmente vir a deixar de se-lo, pelo simples fato de inexistir qualquer vínculo essencial entre a organização social e os moldes capitalistas de produção, podendo esta Sociedade vir a atingir qualquer outra forma.

É exatamente esta conclusão óbvia que exaspera os adeptos do sistema, os quais não menos que os místicos comunistas encaram a própria ordem capitalista como um 'fim da História' (Fukuiama) em termos de algo definitivo e insuperável. Havendo inclusive que deplore o capitalismo e considere-o como insuperável apostando no fim da Civilização ou melhor da humanidade. Assim a evolução social nos teria conduzido a este beco sem saída. T S Elliot era um destes que associava o capitalismo ao desencanto ou a quebra da magia e que ao mesmo tempo não acreditava que era possível vence-lo. Outros como, o grande Berdiaeff, notável critico do sistema, chegaram a flertar com o catastrofismo escatológico, resíduo judaico, ainda hoje presente na maior parte do Cristianismo sectário.

Diante de tudo quando registramos no parágrafo anterior fica bastante fácil compreender o porque do apelo obstinado dos liberais ao imutabilismo. O qual conseguiu intoxicar as mentes de não poucos intelectuais ao menos até 1858, quando Ch Darwin, o sempre odiado Darwin, vibrou-lhe tremendo golpe pelo simples fato de aniquilar os fundamentos mais remotos da concepção fixista, tributários do pensamento fetichista e da mitologia judaica, assumidos até então pela generalidade do Cristianismo. No momento em que Darwin demonstra biologicamente o fato do transformismo ou do evolucionismo, impondo uma concepção a um tempo natural e a outro dinâmica em termos de botânica e zoologia, torna-se evidente que esta concepção havia de transladar-se para todas as esferas da existência humana, assim da organização social, o que de fato foi verificado e confirmado pela ciência histórica. Expurgado do seio da Biologia como fruto de uma intromissão indevida, o fixismo perdeu todos os seus créditos, inclusive nos domínios da História, passando a ser encarado com o sinônimo de estupidez.

Nem por isso parte dos apologistas dos sistema pode fugir a tentação de apresenta-lo como onipresente e imutável aos bípedes comedores de alfafa que fazem parte de seus rebanhos... Lamentavelmente as pessoas simples continuam deixando-se levar pela imaginação, na mesma medida em que não conseguem desprender-se da crença fetichista no criacionismo. Donde topamos mais uma vez com os tentáculos do fundamentalismo religioso e sectário, cujo fim é impedir as massas de pensar...

2) No entanto tal e qual se diz que dos ossos da quimera brotaram guerreiros ou que das cinzas de uma ave sai outra ave, das cinzas do criacionismo ou melhor de seu oponente que é o evolucionismo, sobretudo sob a forma acanhada do darwinismo crasso brotou nova forma de alienação, destinada mais uma vez a narcotizar os intelectuais sem consciência ética.

Claro que nos referimos ao darwinismo social, doutrina ainda hoje bastante popular entre os anarco individualistas, ANCAPs ou mesmo entre os simples liberais economicistas.

Não ignoro que o novo sedativo ideológico ou que a nova arma destinada a propaganda, tenha sido forjada por Herbert Spencer e não por Ch Darwin. A própria expressão tão exaustivamente discutida 'Sobrevivência ou triunfo do mais apto' foi cunhada pelo pensador e sociólogo de Derby. Diante disto um imenso número de cientistas darwinistas tem se esforçado para livrar a barra do santo padroeiro da Evolução... Não são apenas os papistas, os protestantes, os comunistas, os fascistas, etc que possuem hagiografia, como diz Crane Brinton. Também os cientificistas ou evolucionistas ortodoxos tem sua hagiografia e ao que parece não menos capciosa e desonesta até a manipulação. Que digo, mesmo alguém do relevo de um Kropotkin (Em sua obra clássica 'O apoio mútuo) esforçou-se por apresentar Darwin como oponente ou ao menos indiferente as fanfarronices de Spencer, em cujos braços depositava o filhote.

Sucede todavia que na ulterior edição de 'A origem das espécies' o próprio Darwin assume o polêmico termo cunhado por Spencer, o qual posteriormente será sempre compreendido como sinônimo de 'sobrevivência do mais forte'. O mais apto é o biologicamente melhor constituído fisicamente e em termos de força. Pois Darwin ao contrário de De Vries jamais concebeu o conceito chave em matéria de evolução, a saber as mutações. Ora as mutações implicam certamente desvantagem ou vantagem, mas não necessariamente em termos de força. Não se trata de competição entre seres estruturalmente iguais em termos de força física como decorre da doutrina de Malthus repisada por Darwin. A luta por alimento entre seres estruturalmente iguais, e que é muitas vezes decidida pela força mas nem sempre, nada tem a ver com a evolução, pois não é ela o objeto da seleção natural. A seleção natural seleciona mutações.

Claro que Darwin deixando-se iludir pela seleção artificial chegou a imaginar que a seleção natural por sí só entre exemplares estruturalmente idêntico produziria as variações estruturais ao cabo das quais surgiriam novas espécies. Ora este viés, que ignora o verdadeiro objeto da seleção natural, i é as mutações (Se genéticas ou radioativas não nos vem ao caso) jamais superou a visão anterior que é Lamarckista e confere a seleção natural um aspecto ou poder mágico.

No frigir dos ovos da hipotética guerra continua imaginada por Malthus em termos de disputa por alimento entre seres da mesma espécie ou de espécies diversas nada sai. Ela é por definição estéril e improdutiva. Não é a fonte da evolução.

Importa saber se ela corresponde a seleção natural, enquanto elemento que testa as mutações. Isto no entanto não é objeto de um ensaio sociológico ou filosófico.

O que desejamos saber é se Darwin apoiou ou não Spencer e se em alguma ocasião pronunciou-se sobre a ideologia social que ela seu nome.

Quanto a Spencer é bem sabido, que apesar das invectivas do citado anarquista russo, Darwin referiu-se a ele ao menos uma vez em termos mais do que lisonjeiros, alcunhando-o como 'Nosso grande filósofo'. Elogio rasgado que jamais dirigiria a alguém que tivesse falsificado sua doutrina. Claro que aqui sempre podemos permanecer nos limites da Biologia e da controvérsia amarga a respeito do sentido da expressão por ele criada... Precisamos portanto saber se Darwin alguma vez ou em algum momento aludiu ao tema do darwinismo social.

Topamos precisamente com tais alusões no livro 'A origem do homem' sobretudo a respeito da descoberta da vacina e do esforço gasto pelos Cristãos com o objetivo de assistir aos deficientes físicos e mentais. Darwin estabelece uma crítica que partindo de sua concepção de seleção natural conclui pela degeneração da raça enquanto movimento inverso ao do movimento evolutivo. Todo darwinismo social esta contido formalmente em tais premissas.

Já dissemos que o darwinismo social tem pé manco ou de barro por ter Darwin como lamarckista incorrigível que era concebido a Seleção natural em termos de força ou fator único e mágico; o que vai contra tudo quanto aprendemos em termos de genética. Daí a necessidade de De Vries ter vindo em socorro da explicação darwiniana e de que fosse elaborada uma teoria sintética que considerasse a genética e incluísse o fator estocástico das mutações, no caso o elemento criador por assim dizer. A seleção natural testa o que é produzido pelas mutações ou as diferenças estruturais aparecidas nos indivíduos de uma mesma espécie.

Já quanto ao elemento estável, que é a seleção natural, tudo quanto podemos dizer é que embora deva ser compreendida enquanto situação problema, e na natureza não faltam situações problema, ou de adaptação a um meio igualmente dinâmico e hostil, certamente não pode ser compreendida no sentido romântico proposto por Malthus ou de uma guerra animal por suprimentos, seja em termos de infra espécie ou extra espécie. Claro que tais situações, vinculadas as transformações ocorridas no meio, até podem ocorrer. O problema aqui é encara-las como únicas e dar toda a evolução como algo acionado pela apetite voraz de nossos ancestrais... ou como questão de cardápio.

Para tantos quantos aceitam esta exótica doutrina os mecanismos sociais relacionados com o acesso ao poder são como que uma continuidade da Seleção natural ou como um manifestação desta lei. A qual testaria as aptidões ou méritos dos seres humanos, compreendidos não poucas vezes em termos de força ou de esperteza. Consequentemente os indivíduos desajustados, que não conseguem, adaptar-se ao sistema ou inserir-se nele - assim tantos quantos não enriquecem, os pobres, os humildes e trabalhadores - são classificados como ineptos ou fracassados, e como é esta sentença ditada pela própria natureza não há quaisquer motivos para compadecer-se deles ou para preocupar-se com sua sorte. Devem ser abandonados as forças da natureza, assim os deficientes mentais, criminosos, drogados, alcoolatras, etc  Nem se poderia questionar a organização social que executa a Seleção ou opor-se a ela como querem os socialistas. Tal oposição faria tanto sentido como opor-se a Seleção natural em termos Biológicas, afinal selecionando os indivíduos mais fortes e atribuindo-lhes o poder, é esta seleção que faz a Sociedade evoluir. Sem ela o progresso cessaria e daria espaço a degeneração social.

Claro que deste ponto de vista sistema social algum poderia ser considerado mais desenvolvido que o liberalismo econômico ou capitalismo pelo simples fato de restringir o acesso ao poder a uns poucos e estimular ao máximo a concorrência entre os indivíduos. Como se percebe capitalismo e darwinismo social encaixam-se um no outro como a mão e a luva, o que nos leva a questionar as relações existentes entre o próprio Darwinismo biológico em sua gênese e a reação de um sistema que se viu desfalcado de seu grande trunfo: O fixismo. Compreendidas em termos de manipulação ideológica. O problema foi evidentemente levantado pelos líderes e pesquisadores da antiga URSS e certamente não é ocioso. De uma forma de outra essa relação com o capitalismo precisa sim ser considerada e ponderada. Mesmo que choque os cientificistas partidários da neutralidade ingênua.

O quanto nos resta a dizer é que a versão ingênua do darwinismo social é aquela segundo a qual o trabalhador pobre ou desempregado (que não enriqueceu) é vagabundo enquanto que o patrão é sempre um herói ou um homem esforçado e comedido que partiu de baixo ou que sendo assalariado tornou-se milionário. Já nos referimos diversas vezes a esta fábula ou manobra. E por isso esgotamos o quanto tínhamos a dizer por hoje.

Continue acompanhando esta série de artigos sobre as formas de alienação ideais e a fuga e nossos demais ensaios neste Blog e caso encontre sentido neles ou aprecie-os faça a gentileza de matricular-se entre nossos seguidores e de recomenda-lo a seus amigos, colegas e alunos. Toda colaboração e crítica ponderadas são bem vindas!

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

As principiais formas de alienação e fuga.

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Duas são as atitudes típicas do homem diante da realidade: A de conhecimento e a de alienação ou ignorância e duas as atitudes típicas do homem face ao conhecimento de uma realidade contrária a suas aspirações: O afrontamento e a fuga.

A alienação tem sido comumente explorada por aqueles que detém o poder. De modo a possibilitar-lhes o exercício de um controle discreto da Sociedade.

Embora saibamos que as situações de miséria são comumente frutos da exploração do homem pelo homem, aqueles que tiram benefício da exploração esforçam-se por convencer os explorados de que tais situações são consequências de fatores ou de causas bem distintos.

O objetivo deste artigo não é nada ambicioso. Pois limita-se a apontar algumas explicações alienantes produzidas ou utilizadas peplos donos do poder com o auxílio da mídia ou dos meios de comunicação de massa.

Não nos prenderemos aqui ao artifício mais comum que consiste em maquiar a realidade ou em distorcer sua aparência. Passando direto aos estratagemas com que buscam ocultar os fatores verdadeiramente responsáveis pelas situações/problema, ou sejam, as causas.

Afinal de contas na mesma medida em que a Internet ampliou o acesso da população a realidade vivida, enfraquecendo a maquiagem das situações, a necessidade de ocultar as causas dos problemas tornou-se ainda maior. Hoje mais do que nunca, o sistema, para proteger-se, precisa recorrer a alienação enquanto produção de causalidades falsas ou aparentes.

Assim enquanto a maçonaria conspirava verdadeiramente em favor do neo liberalismo, os líderes de diversas nações apresentavam os judeus responsáveis por todas as crises ou problemas que acometiam a sociedade. Durante muito tempo foram os judeus vilões 'reais' fabricados pela mídia de acordo com as necessidades de Estado ditadas pelo capital. Hoje continuamos assistindo a fabricação de outros tantos supostos vilões, já de talhe irreal ou fabuloso, e no entanto não menos suficientes.

Os ciganos também chegaram a ser acusados, embora em menor escala que os judeus e de modo geral quaisquer minorias étnicas ou religiosas tendem a se-lo em determinadas circunstâncias.

De qualquer forma chegamos a primeira fonte de alienação:

1 - Teorias de conspiração. Por trás de tudo quanto nos acontece de mal. Dos juros, da inflação, do arroxo salaria, da miséria, etc existe um determinado grupo de pessoas, que não correspondem ao governo e menos ainda a 'bolsa de valores'. Em algumas situações este grupo é identificado como sendo uma unidade étnica minoritária como os judeus ou os ciganos. Noutras com uma minoria religiosa como os hindus ou siks na Inglaterra. Nem podemos deixar de admitir que no tempo presente, os próprios radicais e terroristas afiliados ao islamismo sunita, correspondam a este propósito na Europa, tal e qual os latinos correspondem a ele nos EUA. Devemos no entanto deixar bem claro que os muçulmanos sunitas, com seu ideal de arabização e de implantação da sharia correspondem perfeitamente a este desígnio. Não estamos portanto querendo dizer - como os esquerdopatas ingênuos - que o radicalismo islâmico sunita não seja de fato um problema e um problema bastante sério para a cultura européia, o que estamos dizendo é que a simples presença desses fanáticos no cenário Europeu bem pode propiciar a edição de hipóteses simplistas em torno de uma monocausalidade que oculte o papel da economia de Mercado ou do sistema capitalista. Quando na verdade um problema não exclui o outro. O Capitalismo no entanto pode muito bem manipular a realidade a ponto de esconder-se por trás do radicalismo islâmico, convertendo-o em bode expiatório.

Atualmente no entanto, a grande massa de teorias conspiracionistas que povoam o imaginário popular, parece girar em torno da mitologia. O que não as torna menos impactantes e poderosas. Referi-mo-nos obviamente as quimeras divulgadas pelo espertalhão Dan Brown com o auxilio da imprensa ou da fábula dos Iluminati, bem como a sua reedição mais recente em torno dos tais reptilianos. Havendo inclusive quem vá mais além e avançando pelo caminho da religiosidade ou da alucinação postule um controle social exercido desde um lugar chamado shambala ou mesmo por extra terrestres ou habitantes do interior da terra... No tempo oportuno escreveremos um pequeno ensaio sobre todos esses delírios habilmente explorado pelos legítimos donos do poder, i é, aqueles que vivem de juros, mais valia, especulação financeira, etc

Naturalmente que este primeiro gênero de alienação nos remete facilmente ao segundo -

2) O fundamentalismo religioso. O fundamentalismo religioso, devido a seu teor fetichista, tem o vezo de eliminar todas as causas intermediárias e identificar o sagrado ou a divindade como causa direta de todas as coisas. Outra variante consiste em culpar um poder externo ou paralelo chamado destino e nem estou interessado em saber como o vulgo concilia a ideia de destino com a ideia de divindade. Por esta variante chegamos a crença na astrologia segundo a qual nossa condição é produzida pelos astros ou por suas condições, de modo que são eles os causadores tanto de nossa felicidade quanto de nossas desgraças. Certamente que essa crença precisa ser discutida num artigo a parte.

Entre os muçulmanos é deus quem tudo decide por meio do Qadar ou de seu decreto eterno. Tudo quanto se sucede com os homens, inclusive a repartição de bens e riquezas, é resultado da vontade eterna de alá, daí a título de qualquer coisa exclamarem: Esta escrito ou seja Maktub! Alá é que causa terremotos, maremotos, epidemias, incêndios, e todas as formas de desgraça que acometem o gênero humano sendo de todo inútil rebelar-se contra elas. Tal a causa primária da resignação e apatia observáveis em tais sociedades. Assim em número maior ou menor de Cristãos prevalecem as mesmas ideias embora jamais tenha sido assumidas pela Teologia Católica e sejam cada vez mais rechaçadas como absurdas. No entanto alguns fanáticos, mesmo entre o clero, insistem em adotar semelhante ponto de vista. Bem mais comum é a crença dos protestantes na predestinação, característica dos calvinistas. Os quais por via do antigo testamento não tem sido indiferentes a crença fetichista segundo a qual Deus também seria causa imediata de todos os acontecimentos naturais e sociais, doutrina que aproxima-se deveras do fatalismo islâmico.

Ultimamente os sectários protestantes elaboraram uma versão bem mais refinada do fetichismo associando-o - pasmem - a dinâmica do Mercado e por assim dizer santificando-o ou canonizado, tal e qual o papa canoniza seus santos. Assim os pentecostais, para os quais o milagre não é apenas possível, mas absolutamente banal, conceberam a ideia segundo a qual a divindade recompensaria os contribuintes da igreja, isto é aqueles que sustentam o pastor por meio de dízimos, não apenas com saúde ou conquistas amorosas, mas sobretudo com emprego, dinheiro e fortuna; tornando-os ricos e bem sucedidos, exatamente conforme as metas e ideais da Sociedade capitalista, os quais certamente encaram acriticamente como absolutamente Cristãos. Ainda nesta perspectiva aqueles que são mal sucedidos financeiramente (i é os que não ficam milionários) pertencem ao número dos descrentes, dos pecadores ou dos que tem a fé demasiado fraca. Os que pertencem a primeira categoria não fazem jus a fortuna. Os que pertencem a segunda categoria estão sendo punidos ou castigados. Já os que pertencem a terceira categoria estão sendo provados na medida em que permanecem pobres. Importa saber que como pouquíssimos entre eles enriquecem de fato, jamais cessando de lavar banheiros, são amiúde enfiados pelo pastor numa das duas categorias acima, i é na dos pecadores ou na dos que por algum motivo tem fraca fé e estão sendo provados. Deus certamente lhes esta reservando algo, pelo que devem esperar. Assim vão vivendo de esperanças e protelando o dia da 'graça' até morrerem ou virem de fato a perder a fé. Importa terem contribuído bastante e não poderem recuperar a grana perdida.

Embora seja raro no espiritismo kardecista não é lá muito raro na umbanda e outros grupos sincréticos que além das enfermidades e problemas afetivos, também os problemas financeiros como o desemprego sejam relacionados com a doutrina do Karma, praticamente na perspectivas do Hinduísmo. Noutros cultos, no protestantismo ou mesmo no catolicismo popular o insucesso financeiro, como quaisquer outros problemas é muitas vezes relacionado com o mal feito ou seja, com a o catimbó, com a feitiçaria, com a bruxaria, com os assim chamados trabalhos ou mesmo com simples pragas ou maldições.

Bem se vê que uma pessoa simples a ponto de dar crédito a qualquer uma destas 'explicações' e cujo padrão de pensamento é mágico fetichista ou infantil, jamais poderá suspeitar quanto as verdadeiras causas dos males que a afligem como a incompetência por parte do Estado, a dinâmica do Mercado, etc Não pertence a carga de suas possibilidades a aceitação de causas comuns, naturais ou materiais, as quais ela simplesmente não percebe e por incapacidade invencível. Culpara sempre o destino, deus, o karma ou uma bruxa e jamais o regime assalariado, a usura, o lucro, etc


segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Repressão sexual, civilização, barbárie e sexualidade - Ensaios sobre Freud




Uma das abordagens mais interessantes de Freud diz respeito certamente a relação existente entre repressão ou limitação do prazer e Civilização ou cultura.

Conforme teoriza ele a criação da Sociedade Civilizada só foi possível a partir da limitação do prazer. Inclusive do prazer sexual, dentre outros. Não nos esqueçamos de que o próprio ócio é um prazer.

No entanto este mesmo homem também se via ameaçado pela decadência de seu próprio corpo que é a velhice, pela enfermidade, pela dor, pelos movimentos arbitrários da natureza e, o que é pior, pelo convívio com seus próprios semelhantes. De modo que as ocasiões de sofrimento não eram poucas.

Diante disto concebeu e implementou o ambicioso plano de alterar, até onde fosse possível, as forças da natureza, tendo em vista reduzir ao máximo as ocasiões acima elencadas. A partir daí foi que surgiu a técnica e posteriormente a ciência, as quais ao menos por um tempo tornaram sua vida mais amena.

O espaço em que a técnica surgiu e em que a vida tornou-se mais amena foi o espaço urbano das primeiras cidades. Com a expansão da vida urbana é assumido um ideal de civilização ou de desenvolvimento.

Tudo isto já o sabemos...

Há no entanto muita coisa de interessante nas entrelinhas a par de algumas possíveis deduções apressadas que poderiam ser feitas. É este aspecto embutido na teoria freudiana de Sociedade que queremos abordar.

A dar a limitação do prazer e a restrição da sexualidade por impulso em termos de civilização e as civilizações por mais ou menos desenvolvidas a primeira conclusão a ser sacada é que quanto mais notável é uma civilização tanto mais repressora é. A dar tal inferência por exata seriamos forçados a concluir que as civilizações egípcia e sumeriana, grega e romana, chinesa e indiana foram acentuadamente maniqueístas, puritanas e repressoras.

Ao que parece a hipótese do Dr Freud, em termos de uma repressão meramente funcional i é relacionada com a disciplina do trabalho. As civilizações ou melhor o esforço dispendido tendo em vista a elaboração delas, teve por consequência uma redução, relacionada ao menos com o montante de tempo gasto com a obtenção de certos prazeres sensíveis, dentre os quais o sexo. Caso aqueles homens primitivos tivessem optado por estar dormindo ou fazendo sexo durante a maior parte do tempo disponível por um lado o trabalho coletivo seria impossível de ser realizado e por outro chegariam ao esgotamento. O tempo teve de ser ordenado e a fruição do prazer, do lazer ou do ócio relegada a um determinado período. Além disto, na mesma medida em que o esforço fosse tanto mais intenso e o gasto de energia maior, a própria fruição do prazer devia ser restringida.

Houve uma restrição em termos de prazer, não todavia em termos absolutos, senão em termos relativos e funcionais. Nos períodos em que não estavam trabalhando e nas horas do dia em que não estavam trabalhando aqueles homens deviam ter livre acesso ao prazer. Outro aspecto tanto mais importante e digno de ser considerado é que a restrição dos prazeres em tais sociedades, as mais avançadas, deu-se prioritariamente em termos de quantidade, jamais ou quase nunca de qualidade ou forma. Necessário ressaltar este aspecto. Quero dizer que em nenhuma das civilizações acima apontadas topamos por exemplo com a condenação de alguma forma de fruição sexual em si mesma. Assim a prostituição, assim a masturbação, assim a homoafetividade... jamais chegaram a ser questionadas em si mesmas. Restrita quanto ao acesso em termos de tempo, a sexualidade chinesa, indiana, egípcia, sumeriana ou greco romana permanece aberta, indeterminada e rica quanto as formas.

Como não pretendo escrever uma História do sexo na antiguidade ou nas antigas civilizações, digo das mais desenvolvidas e, graças as escavações em Pompéia estamos bastante bem informados sobre a presença do sexo na vida dos antigos romanos, limitar-me-ei em abordar, de passagem apenas, a sexualidade no antigo Egito. Nada ali era tabu uma vez que Ramsés, o grande Faraó, contraiu matrimônio com sua própria filha Meritamon. De fato o sexo estava difuso em toda civilização Egípcia, a começar pelo universo religioso. Aton, o deus primordial, masturba-se com o objetivo de produzir os primeiros seres divinos. Chu e Tefnut transam produzindo Geb e Nut, os quais dão origem aos primeiros reis divinos. Crianças assistiam a realização do ato sexual feito por seus pais. Noutras circunstâncias Geb pratica a auto felação. Amiúde os deuses são representados com o falo ereto, ejaculando. O próprio Faraó masturbava-se publicamente no Nilo, uma vez por ano, com o objetivo de fecundar a colheita. Segundo um mito já clássico Isis após recompor o corpo do falecido Osiris recria seu falo por meio da magia. Cenas de caça são pintadas nos túmulos significando veladamente a sexualidade. Havia um deus da líbido, da dança, da embriagues, do sexo; o qual era Bes. O papiro erótico de Turim, representando a vida quotidiana num bordel de Tebas, expõem aos leitores cenas explicitas de masturbação feminina, etc Preciso mencionar a saga do padeiro Panet? E mencionar que sequer foi castigado ou punido pela lei? Nem preciso dizer que os antigos egípcios não tinham maiores problemas com seus corpos ou com a nudez; que meninos e escravos andavam praticamente nus enquanto que as mulheres da elite limitavam-se a cobri-se sumariamente com um pano de linho fino. Nada mais comum em Deir el Medinat do que desenhos de natureza sensual ou erótica. O matrimônio era flexível, o divórcio comum, a poligamia e a semi poligamia amplamente disseminadas e a mística da virgindade ignorada. Mesmo a homo afetividade era originalmente tolerada desde que não houvesse subjugação forçada. Além disto os egípcios drogavam-se usando flores de lótus, embriagavam-se com cerveja, etc, etc, etc Prazer ali não parece ter sido tabu.

Trabalhavam, e refiro-me aos trabalhadores livres, no entanto esses egípcios dez dias durante a semana. Sendo assim como encontravam energias ou forças para praticar sexo? Acaso não estaria o sexo apenas na imaginação ou na fantasia de tais pessoas??? Algumas pinturas e representações parecem indicar-nos que a vetusta civilização do Nilo conhecia já o que chamamos de excitantes ou melhor dizendo substâncias afrodisíacas. Certamente não faziam sexo a todo tempo mas quando o faziam faziam intensamente. E no entanto apesar da fruição do prazer, seja por meio do sexo, da cerveja, dos narcóticos ou da dança, a civilização Egípcia foi o que foi. Não sobrecarregou ao extremo seu povo com tabus sexuais, os quais sequer existiam.

Quanto aos antigos indianos limitar-me-ei a mencionar que são os autores do Kama Sutra...  Diga-se o mesmo do Tantra.

Outro é o caso da sexualidade na Mesopotâmia, pelo simples fato de que achasse esta região de par com as 'terras santas' do islã e do judaísmo, e devido a presença da cultura semita. Claro que tomamos por base aqui a cultura original sumeriana ou de matriz sumeriano/asiânica, atendo-nos especialmente ao Sul desta região, ocupado posteriormente pela cultura babilônica, em oposição ao Norte assírio muito mais bem mais semitizado. Tenha-se em mente que os acádios são um povo sêmita.

Compreende-se portanto porque o tema foi relegado ao silêncio e porque a sexualidade dos mesopotâmicos foi ocultada ou mesmo negada desde os bons tempos da 'santa' rainha Vitória... Apesar disto salta a vista de todo e qualquer sumerólogo o aspecto positivo com que os antigos babilônicos não apenas encaravam mas representavam, comumente, o sexo. Basta dizer que a Epopéia de Gilgamesh refere-se ao sexo como um dos principais prazeres de que os mortais devem desfrutar enquanto passam pela vida. O texto de Shumma âlu CIV, 1,14 refere-se explicitamente ao sexo anal sem adicionar qualquer juízo depreciativo. O mesmo texto acima citado refere-se positivamente a prática homossexual desde que levada a cabo com um 'assinnu' ou prostituto profissional, excluindo a coação (outra era a postura dos assírios). Já foi sugerido alias que havia certo conteúdo homo afetivo entre Gilgamesh e Enkidu. A prostituição por fim era tida em conta de sagrada e em algumas regiões deviam as moças prostituir-se em honra a deusa do amor Astarte. O incesto no entanto é tido em conta de Tabu e a mulher goza de muito menos liberdade do que no Egito. Não se pode no entanto sustentar que a primitiva Sociedade mesopotâmico/sumeriana fosse demasiado repressora ou mesmo repressora em termos de sexualidade ou de prazer. Tornou-se no entanto cada vez mais limitada e policiadora na medida em que o elemento sêmita se foi tornando preponderante, especialmente ao Norte, entre os assírios.

Após termos passado em revista a sexualidade em tais civilizações, a saber as mais desenvolvidas e ricas da antiguidade, podemos estabelecer que mesmo admitindo-se como certa aquela redução quantitativa em termos de prazer necessária a produção da cultura, a forma por assim dizer do contato sexual jamais tornou-se objeto de tabu ou policiamento, e que inexiste por assim dizer uma relação proporcional entre restrição ao prazer ou melhor dizendo entre preconceitos de natureza sexual e grau de desenvolvimento cultural. O desenvolvimento da cultura ou o florescimento da civilização antiga não parece estar na dependência do que podemos classificar como comportamento moralista, maniqueísta ou puritano em termos de negação consciente do corpo ou do orgasmo. Tal tipo de relação é o que não se constata. Eis a primeira relação a que chegamos.

O que nos leva a um problema ou a uma pergunta.

E a existência das culturas maniqueístas implica algum tipo de relação em termos de sentido ou organização social.

Quanto a esta pergunta talvez nos seja possível sugerir um caminho novo ou diferente.

Não precisarei ser erudito ou onerar o leitor com outra aula de História com o objetivo de sugerir uma certa relação existente entre a repressão sexual, os tabus, a negação do corpo ou o maniqueísmo e o espírito agressivo ou a belicosidade de algumas culturas.

Chegado a este ponto devemos esperar pelos protestos de alguns. Os quais dirão que todos os povos e culturas da antiguidade eram agressivos e belicosos na mesma proporção. Este tipo de afirmação se me parece arbitrário e artificial, gratuito enfim. Típico daquela gente simplória que diz para si mesma: Como todas as culturas são iguais todas devem estar em posse das mesmas qualidades e dos mesmos defeitos. Aqui tudo muito apriorístico.

No entanto ousarei perguntar a toda essa boa gente relativista por que não damos com as mesmas cenas de empalamento, esfolamento, tortura, etc representadas nos painéis dos palácios assírios no contesto da antiga China? Por que no Egito temos um Akhenaton abolindo os sacrifícios sangrentos e cogitando sobre a igualdade existente entre todos os homens enquanto o rei da Assíria declara estimar tanto a boa leitura quanto o hábito de cortar as orelhas e narizes de seus prisioneiros de guerra? Por que os Egípcios após terem tomado uma cidade limitavam-se a matar ou escravizar os combatentes enquanto que o 'povo eleito de jao' i é os antigos israelitas massacravam sem piedade até mesmo as crianças, os idosos e os animais que habitavam as vilas tomadas por eles? Por que os indianos ou mesmo os egípcios não saíram pelo mundo afora gritando 'Converte ou morre'? Então pelo amor de Zeus não venham dizer-me que a violência estava presente com a mesma intensidade na antiga China e na Assíria. Na antiga Índia e no antigo Israel. Na cultura islâmica e no antigo Egito.

Indianos, Egípcios e Chineses mal saíram de seus domínios com o intuito de conquistar outros povos ou de submeter outras culturas e mesmo quando foram levados a faze-lo (no caso do Egito após as invasões dos Amu) fizeram-no muito a contragosto e obedecendo determinados padrões de humanidade. Sumerianos e mesmo os Babilônicos, durante certo tempo, tampouco fugiram a estes padrões. Outro é o caso dos Assírios, dos antigos hebreus e dos árabes cujas façanhas todos nós conhecemos muito bem. Assírios pilhavam e aterrorizavam outros povos. Os hebreus promoveram ao que parece o primeiro genocídio de que temos notícia na História e os muçulmanos, a princípio árabes em sua totalidade, buscaram levar sua jihad aos confins da terra. Do que resultou uma quantidade de agressões, mortes, derramamentos de sangue e destruição apenas comparáveis as futuras guerras dos cem anos, dos trinta anos e mundiais...

Certamente que algum estudioso tanto mais realista fará questão de apontar-me os determinantes geográficos ou climáticos, o que vem sendo apontado desde os tempos de Ibn Khaldun e foi assumido entre os nossos, pela primeira vez, por Montesquieu. Os povos do deserto - e estamos diante de três culturas sêmitas - tendem a ser mais rudimentares, agressivos e belicosos do que os povos agrícolas das planícies ou cidades, em função de suas vicissitudes como o nomadismo ou a falta de recursos. Longe de mim questionar que tais fatores possam também eles cooperar quanto a gênese deste espírito belicoso. Suspeito no entanto que neste terreno qualquer enfoque monocausal seja improcedente, e que devamos tal caráter a uma convergência de fatores, assim em parte ao clima ou ao solo, mas não somente a ele.

Há aqui algum ou alguns fatores a mais e nós acreditamos poder identificar um deles com a negação do corpo e a restrição da sexualidade intencionalmente decretadas pelo legislador com o objetivo de potencializar ou de aumentar ao máximo esta alegada agressividade já favorecida pelo meio. Que a cultura semita se tenha esforçado - muito provavelmente mais do que quaisquer outras culturas - no sentido de ocultar o corpo humano e em nega-lo se me parece indubitável. Que tenha adotado igualmente uma série de tabus com relação a fruição do prazer sexual não me parece menos evidente. Tal o escopo - a princípio - do machismo e da homofobia, e posteriormente - já no contesto judaico 'cristão' da modernidade - da monogamia, da indissolubilidade matrimonial, etc Até a formação de um super ego estritamente moralista, em conexão com uma cultura moralista, a qual impôs o recalque dos desejos como sinônimo da virtude ou ideal a ser alcançado por todo homem piedoso.

Certamente resultaria de tais medidas uma epidemia de neuroses a ponto destas assumirem um caráter coletivo, isto caso as religiões de Assur, Javé e Ala, não canalizassem toda a agressividade latente produzida pelo recalque sexual para os domínios da guerra religiosa, tornando tais povos mais agressivos do que já eram ou belicosos no mais alto grau. Pelo que vinculamos essa produção intencional de agressividade e violência a afirmação desse padrão cultural maniqueísta ou puritano e a revolta instintiva latente nesta multidão de recalcados. Em certo sentido a negação da sexualidade chegou a produzir um sentido de Tanatos, um certo desprezo pela vida e uma certa tendência para morte decorrente da infelicidade e da frustração. Não é sem menos razão que podemos relacionar a mística revolucionária assumida por certas pessoas com problemas, desajustes ou disfunções de caráter sexual a apresentar ao menos alguns revolucionários fanáticos como não realizados sexualmente e portanto como seres amargurados. A frigidez, a impotência e a impossibilidade do orgasmo tirou de tais pessoas a vontade de viver a ponto de converte-las em suicidas inconscientes. Guerras, sedições, conflitos, etc dependem de eunucos ou de meios eunucos, enfim de gente que não goza... Assim é que se formam os exércitos e multidões de incendiários revoltosos, os quais ligam muito pouco valor a suas próprias vidas.

A Idade média tinha de ser combativa. Grécia e Roma tiveram de ser combativas; pois havia toda um conjuntura externa que favorecia a combatividade. As idades moderna e contemporânea não conheceram semelhante conjuntura, e no entanto foram ainda mais belicosas. Desde o século XVI ao XIX o número de guerras e conflitos recrudesceu, declinando apenas a partir de meados do século XIX. Durante todo este tempo que vai da reforma ao período vitoriano os ideais maniqueístas e puritanos embutidos na sociedade Cristã pela cultura judaica não cessaram de consolidar-se. O que não pode ter deixado de aumentar ainda mais a pressão do recalque e portanto a produção da agressividade e o desejo inconsciente pela destruição. Desejo que originalmente inexiste, sendo produzido, bom dize-lo, pela cultura da repressão. Seja como for, durante quase trezentos anos este desejo alimentou um sem número de guerras e conflitos estimulados e sancionados pelo fanatismo religioso. Esta relação - Repressão, agressividade, conflito e Religião, marcou toda uma Era, até os idos de 1830 ou 48. Desde então assistimos, sem que o puritanismo saísse de cena (afinal estamos em sua Idade dourada que o período vitoriano), uma redução do número das guerras e dos conflitos ( a qual se prolonga até o surgimento da primeira grande guerra mundial). Neste caso que foi feito de toda esta agressividade?

Desde 1830, com a consolidação do modelo de produção liberal ou capitalista nos moldes clássicos, foi a agressividade canalizada para outros fins, assim para o mundo do trabalho, tornando sua relação com a própria sexualidade ambivalente. Até que Freud apareceu em cena, e após ele os contraceptivos e as Revoluções sexual e feminina, dispondo todas estas relações doutro modo.



domingo, 15 de outubro de 2017

Entrevista com o 'inocente' útil, isto é com o pobre liberal

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Pobre liberal: A pobreza é fruto da vagabundagem. Pobre é pobre porque não quer trabalhar e viver decentemente de salário. Rico é rico porque trabalhou, porque se esforçou.
Outro: E você, é rico ou pobre?
Pobre liberal: Sou pobre...
Outro: Logo?
Pobre liberal: Quero dizer não sou rico nem pobre, ou seja, nem uma coisa nem outra.
Outro:????
Pobre liberal: Quero dizer que ainda estou trabalhando para enriquecer, afinal ainda sou jovem.
Outro: Excelente. E seu pai?
Pobre liberal: Meu pai o que?
Outro: Seu pai é rico ou pobre?
Pobre liberal: Pobre, claro.
Outro: Logo, vagabundo...
Pobre liberal: Não...
Outro: Veja, se seu pai trabalhou por vinte ou trinta anos, economizou e não enriqueceu quer que eu pense o que dele?
Pobre liberal: É que meu pai passou por certas dificuldades.
Outro: E os outros, os outros pobres vagabundos e os patrões vitoriosos acaso não passaram por dificuldades ou as dificuldades são apanágios exclusivos do seu pai?
Pobre liberal: Quando disse que todos os pobre são vagabundos não quis dizer todos os pobres.
Outro: Evidentemente que quis excluir sua família.
Pobre liberal:... Até concedo que existam alguns pobres esforçados que não chegam a lugar algum...
Outro: Pelo que vejo já chegamos a algum lugar...
Pobre liberal: A maioria no entanto é mesmo acomodada.
Outro: Acomodada?
Pobre liberal: Sim acomodada.
Outro: Acomodada como?
Pobre liberal: É sempre possível buscar um emprego melhor.
Outro: Com tanta gente desempregada formando esse enorme mercado de reserva o amigo é capaz de crer que alguém receberá ou recebe muito mais pelos mesmos serviços oferecidos?
Pobre liberal: Se você percebe que sua profissão não é rentável tem que mudar de profissão?
Outro: Como mudar de profissão se a aquisição de uma nova técnica exige aprendizado efetivo?
Pobre liberal: Sei lá, tornando a estudar ou fazendo um curso técnico.
Outro: Neste caso como poderá fazer economias tendo de pagar pelo curso em questão ou pelo material, além de ter de alimentar-se melhor para poder estudar e trabalhar ao mesmo tempo, gastar com passagem de ônibus, etc
Pobre liberal: Claro que enquanto estuda e trabalha não poderá economizar.
Outro: Neste caso economizará quando?
Pobre liberal: Quanto estiver formado e em posse de um emprego melhor.
Outro: Quando a maioria dos brasileiros e brasileiras costumam fazer algum curso já passaram os vinte.
Pobre liberal: E?
Outro: Significa que essa pessoa que terminou seu curso e conseguiu um empreguinho pouco melhor agora tem família para sustentar i é tem filhos, sem que no entanto tenha casa própria, tendo de pagar aluguel.
Pobre liberal: Se essas pessoas não tem condição de ter por que põem filho no mundo? Por que se casa? Por que abandona a casa dos pais e vai morar de aluguel?
Outro: Porque na maior parte das vezes nascem nessas condições e imitam seus pais, tal a força da cultura. Especialmente entre pessoas pouco ou mal escolarizadas. Certas situações sociais tendem a ser reproduzidas. Por isso muitas vezes essas pessoas já nascem em casas alugadas. Por outro lado, conforme a situação dos humildes em geral vai piorando de geração em geração a tendência é que em determinado contesto social apareça um número cada vez maior de conflitos. Quero dizer que os pais e responsáveis tendem a fugir cada vez mais a realidade vivida, a frustração e a falta de esperança recorrendo a bebida, a droga e a própria sexualidade. Com isto o número de filhos ou de crianças aumenta cada vez mais enquanto a condição delas vai se tornando cada vez mais precária. Um número cada vez maior de jovens e crianças tende a ficar exposto a situações de agressão. Disto decorre que o lar, ao invés de apresentar-se como ambiente acolhedor, apresente-se cada vez mais como um ambiente saturado de violência e portanto indesejável. Diante disto mal o jovem consegue um emprego surge a ideia de alugar um comodo, construir um barraco e juntar-se a alguém que esteja nas mesmas condições. Melhor do que ter de entregar todo dinheiro nas mãos de um pai ou de uma mãe violenta e ser agredido... A formação de um lar, por piores que sejam as condições, tende a insuflar alguma esperança naqueles corações, embora posteriormente tais esperanças se mostrem ilusórias, cedendo lugar a frustração, a angústia, a falta de perspectivas e a fuga por meio dos já citados vícios ou do fanatismo religioso. Renovando-se de geração em geração o mesmo ciclo. Não é questão romântica, de escolha, mas de condições dadas. Ninguém dá aquilo que não tem ou o que não recebeu.
Pobre liberal: E o papel da educação na vida dessas pessoas, acaso não existe Escola perto da casa delas?
Outro: Percebo que estudou.
Pobre liberal: Apesar de ter nascido pobre meus pais faziam questão de mandar-me a escola, de irem as reuniões, de olharem o boletim e até de fornecerem alguma explicação sobre as lições.
Outro: Percebo que não nasceu em comunidade de periferia ou na roça.
Pobre liberal: A bem da verdade nasci num bairro de classe média baixa ou quase de classe média baixa.
Outro: Tipo com água quentinha no chuveiro, cama arrumadinha...
Pobre liberal: Mas que vem isso ao caso?
Outro: Já pensou em como deve ser legal ir para a Escola de barriga vazia ou com o estomago apertado de fome?
Pobre liberal: Até onde sei a escola fornece merenda.
Outro: De fato em S Paulo temos umas bolachinhas de maizena e uns copinhos de suco de laranja...
O quanto basta para atrair um certo número de crianças pobres que lá vão merendar, raramente aprender, pelo simples fato de terem trabalhado em algum outro período do dia, de estarem desnutridas, de terem sido espancadas, de terem a afetividade inibida, etc
Pobre liberal: Melhor estarem na escola do que em casa né?
Outro: Sem dúvida, em tais condições a escola equivale a um refúgio face as mazelas da vida. O que não significa que aquelas crianças estejam em condições de aprender muita coisa, pelo simples fato de que o aprendizado depende de certas condições materiais, afetivas e psicológicas as quais já nos referimos.
Pobre liberal: Acaso os professores não estão ali para isso? Acaso não são pagos para isto?
Outro: Fossem suficientemente pagos não precisariam cumprir duas ou três jornadas para poderem sobreviver e certamente poderiam preparar e ministrar aulas muito melhores.
Pobre liberal: Se estão insatisfeitos com seus salários por que não mudam de profissão?
Outro: Não mudam porque não tem uma opção melhor, alias a bem da verdade os melhores professores não permanecem no serviço público estadual e isto já diz tudo, é um sistema retém intencionalmente os educadores menos competentes i é os que menos tempo tem para capacitar-se, sim pois os que teem menos tempo para capacitar-se e se destacam na profissão passam a outros sistemas de Ensino, nos quais inclusive contam com uma estrutura de apoio muito superior.
Caso o estado (S Paulo) quisesse manter os melhores professores e investir na qualidade do ensino remuneraria melhor os seus professores de modo a que não precisassem cumprir dupla ou tripla jornada, destarte poderiam capacitar-se como os demais e nem teríamos professores de segunda classe, mas temos, porque sendo mal remunerados precisam sobrecarregar-se.
Pobre liberal: Bobagem, quem quer ensinar ensina de qualquer jeito, independentemente das condições.
Outro: Somente uma pessoa que não compreende absolutamente nada em termos de ensino aprendizagem poderia dizer uma pérola destas. Não existe ensino feito no ar ou independentemente das condições sejam psicológicas, emocionais, intelectuais, econômicas ou materiais e isto pelo ensino aprendizagem ser um ato complexo em que entram todos estes fatores. Basta dizer que o ensino depende de determinadas técnicas, que estas técnicas dependem de determinados materiais e que estes determinados materiais, tendo custos, implicam investimento por parte daquele que gerencia a Educação. O professor faz sua parte na medida em que ama seus alunos e aspirar cumprir honestamente com sua função. Não é no entanto um taumaturgo ou seja não faz milagres, ficando sempre na dependência das condições naturais que são em parte materiais. Na falta de livros, giz, quadro de giz, retroprojetor, slide, vídeo, ônibus, etc ou na base do improviso, sua ação torna-se cada vez limitada, até tornar-se de todo improfícua. Quando ultrapassa-se o número de vinte alunos por turna e salas convertem-se em depósitos de jovens e crianças, digo que o ato de ensinar é intencionalmente obstruído. A escola privada, excepcionalmente, pode contar com profissionais de qualidade inferior, os quais no entanto sempre poderão produzir medianamente, devido ao apoio pessoal ou material oferecido a tais profissionais. A escola pública com os melhores profissionais e as melhores intenções ficará sempre atrás da escola privada caso não haja significativo investimento em termos de estrutura pessoal e técnica. É exatamente o que acontece. E tem uma razão de ser. Afinal a construção de uma Sociedade menos desigual começa com oportunidades ou chances iguais para todos. Todavia como falar em oportunidades iguais quando a qualidade do Ensino não é Igual???
Pobre liberal: Não compreendo essa Filosofia que consiste em aliviar as responsabilidades das pessoas de baixa renda, das crianças da periferia, dos professores públicos, etc e lança-la toda sobre as costas largas do Estado.
Outro: Uma vez que existe um Estado certamente não existe de enfeite, comportando determinada missão. Para tanto pagamos impostos e somos onerados por uma carga tributária que muito querem reduzir em benefício do patrão mas que sempre poderia ser mantida e revertida em benefício dos trabalhadores e da gente humilde por meio de investimentos nos setores da educação, saúde, habitação, lazer, segurança, etc a exemplo do que ocorre nos países do Norte da Europa, em especial na Escandinávia. Uma vez que lá os tributos revertem a população sob a forma de qualidade de vida por que não poderia acontecer o mesmo aqui? Certamente há pessoas, administradores inclusive, que não desejam que o estado cumpra com sua função social e de certo, e para que? Para que todos os serviços sejam assumidos pela iniciativa privada revertendo em favor do Mercado e endossando ainda mais a ordem liberal ou neo liberal.
Por outro lado não se trata aqui de aliviar a barra de quem quer que seja mas sim de considerar diversos fatores e fazer justiça. O amigo é que fundamentado num idealismo, vulgar, grosseiro e aberrante ou numa concepção romântica da existência, desconsidera tudo quando em termos de materialidade influência as ações humanas executadas no tempo e no espaço ou seja num universo material e corpóreo. Daí achar que a boa intenção tudo pode ou que a boa vontade tem poderes mágicos. São certamente fatores vitais, os quais jamais podemos excluir, mas que isoladamente pouco ou nada produzem. Precisamos certamente de muita boa vontade, mas também nos meios necessários para faze-la acontecer. Parto de uma perspectiva realista, considerando a realidade das pessoas sejam trabalhadores, alunos e professores, os quais são necessariamente influenciados pelo meio.
Liberal pobre: Quem quer fazer as coisas faz independentemente das condições.
Outro: É obrigação do Estado oferecer as condições necessárias para que o ofício de professor e a vocação de aluno concretizem-se no nível mais intenso, aproximando-se de um ideal de perfeição. Se a iniciativa privada fornece tais condições a seus docentes e alunos, o poder público não pode ficar atrás. Isto sob a pena de termos dois padrões de qualidade diferente, um para os ricos e outro para os pobres. Caso as condições sejam consideradas por um sistema de ensino deverão ser igualmente consideradas pelo outro.
Liberal pobre: Se de fato aspiram por uma educação igual para todos por que não aprovam a privatização das escolas?
Outro: Antes de responder a sua pergunta devo dizer que privatização não é nem de longe garantia de qualidade como costumam declarar os meios de comunicação patrocinados por corporações liberais. Para tanto devemos considerar que o maior desastre ambiental acontecido neste país foi consequência da falta de controle de qualidade por parte do setor privado e não do estatal. Outro exemplo não menos clamoroso diz respeito aos abusos, recorrentes alias, cometidos pelos planos de saúde. Dos quais tem resultado gravíssimos danos a seus afiliados. Via de regra afirma-se que caso o SUS funcionasse ou fosse superior não existiriam planos de saúde. Sabemos no entanto que boa parte das pessoas, pelo simples fato de custearem igualmente o SUS, na prática, acabam servindo-se de ambos os sistemas. Então a primeira pergunta a ser feita é se a qualidade dos planos seria a mesmos caso inexistisse o SUS? Já a segunda pergunta a ser feita diz respeito - adotando-se a ótica da privatização - ao que aconteceria com aquela parcela da população incapaz de pagar por um plano de saúde caso o SUS deixasse de existir? Seriam deixados a mingua na sarjeta para morrer como mostrou Michael Moore em seu documentário sobre a assistência médica nos EUNA ou teriam de hipotecar suas casas, automóveis, etc em caso de doença???
Liberal pobre: Uma vez que todos ganhassem suficientemente bem?
Outro: Todos?
Liberal pobre: Uma vez que a maior parte das pessoas pudesse pagar por tais serviços.
Outro: Poderia pagar por eles um trabalhador assalariado, mormente quando os senhores da mesma maneira a fixação de um salário mínimo por parte do Estado?
Liberal pobre: Os salários devem obedecer a lei da oferta e da procura.
Outro: Neste caso com tanta gente desempregada e procurando por serviços temo que jamais seriam suficientes para custear tais serviços.
Liberal pobre: Evidentemente que se trata de uma Sociedade em que mérito de alguns poucos seria bastante reconhecido.
Outro: Como você poder falar em mérito se a concorrência parte de planos diferenciados, de condições de vida preexistentes, de qualidades de ensino diferente, etc??? Como você espera que o pobre alcance o rico se o rico sempre parte a frente dele. Acaso já assistiu a alguma maratona em que os corredores partam de pontos diferentes? De fato até poderíamos falar em merecimento, esforço, etc desde que a concorrência partisse de oportunidades iguais para todos.
Liberal pobre: Como chegar a algum lugar sem fazer sacrifícios?
Outro: Nada mais canalha do que pedir sacrifício aos demais enquanto recebemos a fortuna de bandeja por meio da herança. A homem algum assiste o direito de exigir dos outros aquilo que ele mesmo jamais fez...
Liberal pobre: Você fala tanto em realidade e ignora que as coisas sempre tem sido assim, desde o começo do mundo.
Outro: Quem ignora supinamente as lições da História são vocês, haja visto que a primeira tentativa de reforma social foi implementada há cerca de quarenta e cinco séculos pelo rei Urukagina de Lagash. Grosso modo somos autorizados a dizer que algumas sociedades jamais cessaram de conceber, imaginar e implementar instituições cada vez mais eficientes no sentido de estabelecer ou de, se possível fosse, esgotar a demanda da justiça.
Liberal pobre: Quer dizer que nem sempre fomos capitalistas?
Outro: Basta olharmos para a Idade Média, para as civilizações antigas ou para as culturas primitivas...
Liberal pobre: Seja como for tem o homem de evoluir e tal qual o homem a Sociedade.
Outro: Sem sombra de dúvida, no entanto a opinião segundo a qual o Capitalismo constitui uma evolução face aos sistemas precedentes, inda que apoiada pelo odiado K Marx, não passa de um juízo de valor.
Liberal pobre: De fato nem mesmo Marx ousaria colocar o sistema estamental das ordens feudais acima do nosso capitalismo.
Outro: Como não sou marxista ortodoxo, direi na esteira de um heterodoxo marxista, que apesar de sua deficiência em termos de técnica a Idade Média jamais cogitou em colocar o TER acima do SER. Com efeito se nossos ancestrais medievos morriam devido a fome ou a enfermidade é certamente porque não havia comida ou medicamentos. Morriam porque não se sabia fabricar este ou aquele remédio, porque inexistia este ou aquele aparelho, por falta de técnica ou de conhecimento enfim e não pode má vontade. O medievo jamais conceberia a destruição deste ou daquele gênero alimentício como meio lícito para aumentar seu valor enquanto parte dos cidadãos estivesse morrendo de fome, lhes pareceria monstruoso! Se produzimos alimentos em quantidade suficiente para extinguir a fome em termos globais, por que cargas d água ainda há gente passando fome no mundo? Se não há problema técnico quanto a produção então o que? Onde esta o problema? O problema aqui diz respeito a distribuição dos alimentos enquanto fruto da vontade humana? Afinal esta distribuição é feita conforme os interesses do Mercado ou do Capital/lucro e não dos seres humanos... Temos técnica, o que não temos é Ética. O defeito deles dizia respeito aos meios, o nossos diz respeito ao caráter. Como se diz então que este sistema assumido por homens sem caráter era superior ao deles?
Liberal pobre: O capitalismo com todas as suas mazelas e defeitos é o que de melhor ou de menos mal temos em termos sociais. Pois ao menos possibilita, como nenhum outro sistema jamais possibilitou, a ascensão da maior parte de seus membros.
Outro: Tudo quando o sistema Capitalista tem possibilitado é de um lado o acumulo de uma quantidade cada vez maior de bens nas mãos de um número cada vez menor de pessoas e do outro a partilha de um montante cada vez menor de bens nas mãos de um número cada vez maior de pessoas. Do que decorre um nicho cada vez menor em que o mérito possa inserir-se, e não um nicho cada vez maior ou ao menos estável. Mesmo com relação aos que supostamente possuem méritos é exigido um grau cada vez maior de esforço, pois as chances restringem-se mais ao invés de ampliarem-se. Destarte se há um sistema desfavorável para as classes médias é o capitalismo.
Liberal pobre: Importa que o acesso a tal nicho seja franqueado aos melhores.
Outro: Assim fosse... No entanto a dar por melhores ou mais excelentes os cientistas ou intelectuais não podemos dizer que os pináculos do sistema estejam franqueados a eles. No frigir dos ovos podemos dizer que no sistema capitalistas o corpo é comandado pelas mãos e pés, não pelo cérebro, uma vez que os intelectuais e cientistas ocupam sempre posições subalternas já com relação ao poder econômico já com relação ao poder político. Segundo a organização capitalista os mais excelentes obedecem ou executam enquanto que os medíocres ou espertos, assim digamos, governam o mundo como deuses. É um sistema feito para espertalhões e medíocres... Os demasiado éticos ou os demasiado reflexivos jamais chegam a pertencer a cúpula do poder.
Liberal pobre: Se ao menos o pobre economizar parte de seus salário...
Outro: Dirá você que ele chegará a ser rico?
Liberal pobre: Certamente nem todos...
Outro: Como o seu pai...
Liberal pobre: Ao menos alguns...
Outro: Para com isso meu amigo. Quantos assalariados você conhece que já viraram milionários, banqueiros ou grandes empresários?
Liberal pobre: Bem... Conhecer pessoalmente não conheço, no entanto acredito ter lido na Revista Veja ou visto no Globo Repórter alguma reportagem sobre alguns pobres que se esforçaram, venceram e se tornaram milionários.
Outro: Afinal de contas quantos?
Liberal: Certamente mais de trinta ou quarenta pessoas. Afinal é mais de uma reportagem, talvez cinco..
Outro: Nada mal para duzentos e sete milhões de brasileiros. Basta dizer que os ricos compõem 10% da população brasileira ou seja vinte e sete milhões de pessoas e o amigo vem me falar em dezenas de pobre que se tornaram ricos. Ainda que fossem centenas ou mesmo milhares de pessoas, que vem elas ao caso num montante de vinte e sete milhões de seres humanos??? Que fossem quinhentos mil pobres a se tornar ricos por meio do trabalho numa geração! Seria uma ascensão social a cifra de 2% a cada dez ou quinze anos, e portanto de no máximo 20% de novos ricos a cada cem anos! Agora quantos pobre temos (estamos excluindo a classe média intencionalmente)? Admitido que haja neste pais 50% de pobres chegamos a cifra de 103 milhões de pessoas. Caso nos atenhamos a extrema pobreza temos de nos haver com 1/4 da população, ainda assim com 52 milhões de almas. Diante disto que significa a ascensão social de meio milhão de pessoas a cada quinze anos ou década? Assegurado que pessoa alguma viesse a se tornar pobre, precisaríamos de mil ou mesmo de dois mil anos para erradicar a miséria deste pais! Queremos dizer com isto que em termos sociais a tão decantada mobilidade social oferecida pelo capitalismo é pura e simplesmente inexpressiva. Afinal sequer consideramos os que baixam de posição e cujo montante não é desprezível...
Liberal pobre: Caso as pessoas não enriqueçam por meio do salário, do trabalho honesto ou da economia, de que modo enriquecem?
Outro: A bem da verdade a maior parte dos ricos já nasce rica limitando-se a aumentar o montante de riqueza recebida quando não tem a desgraça de perde-la, o que por sinal é bastante fácil num sistema que privilegia o capital financeiro. Imagine alguém que tenha ganhado na loteria. Tal aquele que por acaso nasce no seio de uma família rica e é contemplado pela herança. Caso o herdeiro seja medíocre conseguirá talvez conservar o que recebeu, situação que poderá ser revertida pela esperteza do herdeiro subsequente. A fortuna vai conservando-se de geração em geração, embora oscile.
Liberal pobre: Uma vez que a herança não pode remontar a eternidade deve ter tido um ponto de partida i é as economias frutos do trabalho.
Outro: Quisera de boa vontade que assim fosse mas...
Se até mesmo os padres da Igreja, que floresceram nos primeiros séculos desta Era, foram capazes de  perceber - e muito facilmente - através do estudo da História, que diversa era a origem da riqueza: Aqui o roubo de terras, ali a pirataria, mais além a corrupção e por fim a pura e simples exploração do trabalho alheio... Que haveremos de dizer nós, os filhos do século XXI? Que tudo mudou e entrou os eixos após a adoção do modelo capitalista? Haja ingenuidade...
Aqui as terras tomadas aos índios, ali o rapto e escravidão dos africanos, mais além a exploração insidiosa da mão de obra estrangeira na lavoura e por fim a clássica obtenção da 'mais valia' nas fábricas...
Liberal pobre: Mais valia? Afinal que vem a ser isso?
Outro: A parcela mais considerável do quanto a produzido pelo operário e que ele jamais recebe por meio do salário, digamos assim, a parte do leão.
Liberal pobre: No entanto, uma vez que o empresário adquiriu ou comprou já os meios de produção, ja a matéria prima, venhamos e convenhamos, é justo que ele retenha para si uma determinada porcentagem do quanto é produzido pelo operário.
Outro: Uma coisa seria reter certa parcela do que é produzido, parte a guiza de compensação, parte a guiza de lucro. Outra totalmente distinta é reter a quase totalidade do que é produziu pagando ao operário um salário de fome ou necessário apenas para que aquele subsista ou mantenha a vida. De fato a miserabilidade só não cresce a passos mais largos devido a instituição do salário mínimo. Fosse o salário deixado ao alvedrio do patrão onde não teríamos chegado, isto pelo simples fato de que a dinâmica do Mercado é definida em termos da obtenção de um lucro máximo e não de uma retribuição justa em termos de necessidades humanas ou familiares, segundo o ponto de vista da Ética.
Liberal pobre: O valor os salário é determinado objetivamente pela lei da oferta e da procura.
Outro: Como o operário jamais tem como controlar o fator da procura ou das vendas... a tal objetividade tresanda sempre em subjetividade, curvando-se a doutrina da maximização dos lucros. Compreende-se que a partir de semelhante prática, que consiste em despojar o trabalhador da quase totalidade daquilo que produz, fique fácil acumular uma vasta fortuna em pouco tempo... Tanto melhor para aquele que foi contemplado pela herança já ao nascer, e que jamais teve de trabalhar de fato pegando numa marreta ou numa pá. Limitando-se a administrar o que ganho de mãos beijadas tornar-se-a ainda mais rico. Enquanto que aquele que fato produz, empenhando suas energias, permanecerá sempre pobre, a menos que se torne miserável.
Tal o quado sinistro do capitalismo: Aquele que vive de renda vai se tornando cada vez mais próspero, enquanto aquele que pega no batente vive e morre pobre.
Liberal pobre: Acredito na honestidade e probidade do patrão.
Outro: Como disse Freud cada qual acredita no que bem quer, havendo quem por isso mesmo creia no saci pêrere, na cuca ou na fada do dente
No entanto como você não é patrão esperarei até ve-lo converter-se em patrão e só depois acreditarei em você.
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